Ao relento

Subia a calçada

Um homem idoso ,

Alma descalçada

De olhar amistoso .

Roupas rasgadas ,

Há pouco costuradas ,

Senti-as eu , até perfumadas ...

Nem um forcejo

Na dose de dignidade ,

Que ainda hoje vejo

No seu rosto de cumplicidade !

Tomei-o para mim

Ante aquele tropel !

Desdobrou-se num sim ,

Tocou a sua , a minha pele .

Li o pensamento ,

- O aconchego da sua morada .

E eu procurei um povoamento

Até ser noite cerrada ...

A sua face olhou a da lua

Com um aceno amistoso .

Perante mim , abriu os braços pra rua ;

Que lhe dissesse se o tempo viria chuvoso !

Ergueu a voz

E com ela a mão

Que indicava uma direcção ...

Um velho banco de jardim

Colado a um tronco robusto ,

Abraçou-se-lhe por fim ...

Deu vida ao seu alegre busto !

Deitou-se no velho banco

Sob o meu olhar atento . ..

Adormeceu enrolado num manto ,

Deitado ali ... ao relento !

artescrita
Enviado por artescrita em 17/12/2005
Código do texto: T87025