Mortuário de Versos-desabafo

Cada corda da viola revira os olhos de saudades tua.

Em cada canto do meu canto diário

Há um pedaço teu, um mortuário

Montado a contragosto

Pelo sal insosso do que restou de nós.

Um cigarro na varanda

E nem um trago eu trago agora por ti. Não fumo.

Não fomos mais por culpa vã de nós.

Cada canto da cidade se revolta

Por tua falta aqui...

- Fode-te tu que escreve mágoas

As tuas lágrimas de nada valem.

Não soubestes bendizer meu nome

Não me disseste que eu te fazia mais.

Na escuridão eu solucei por ti

Manchei teu retrato de lágrimas... -Ingrata!

De meu cigarro não gasto um,

Não vales a pena...

Pena que eu penei por ti.

Pena meu penar.

Não mais me entrego

Não mais serei sincero.

E estes versos-desabafos

Só valem para o que restou de ti:

– um pequeno retrato e a vazia-presença

Da infidelidade imensa que me destes nisso,

Neste gesto de cinismo, neste olhar labirinto,

Nesta falsidade camuflada em riso.