Da forma ao desconcerto

Nas janelas os abutres perseguem a podridão.

As casas enfeitadas, os sinos badalando e a sonolência.

É o circo que chega à cidade, e o ritmo que vira substância.

Tudo num só compasso, tudo numa só dança, numa doença viral.

A mão que desenha contornos infinitos,

e as curvas que modelam sonhos e prazeres.

A cabeça vê, pensa, e cai no túnel do tempo.

A tristeza chora a perda de um filho.

A mente imagina e relativiza a presunção.

O construtor sobe o muro da pretensão e lá fica.

Sem jeito de homem, sem cara de sujeito,

ele não é pronome oblíquo nem incógnita.

Os olhos cegaram mais uma vez a tarde abalada,

as montanhas correram novamente em fuga,

os pés queimaram numa terra sem seringueiras, sem riscos.

O rascunho rascunhado terminou sóbrio, pequeno, amassado...

Quem mais senão o tempo, que corre para longe, iria fadigar-se?

Porque as mentiras, as respostas, as bocas insatisfeitas com um beijo?

Onde mais procurar? Se esconder? Cantar a timidez exausta?

Ah, se o canto falasse! É, aquele mesmo canto sem dono, sem rumo.

Um sorriso jogado pra fora sem destino.

Um protótipo de ribossomos e datas perdidas.

É um poema, um lixo escrito em versos fedorentos,

jogados ao pó da escuridão...

Enrico Vizzini
Enviado por Enrico Vizzini em 17/03/2008
Código do texto: T905292