SEM INSPIRAÇÃO

Ai. a gente chegava, caneta e papel na mão, apertava, torcia, espremia, rabiscava amassava papel e jogava no lixo sem nascer nada de novo. E quando o cesto de lixo estava quase cheio resolvia escrever sobre a falta de inspiração. E deu nisto :

CALO-ME

Calo-me

por completo

repleto

desbotado sem som.

Grito...

só eco

aberto

riscado de vento.

Vou gemendo

molhando

com os olhos

as frases

sem cor.

ATUALIDADE

Estou no topo do verso.

Um pé na realidade e outro

no sonho.

Este vai fugindo , abrindo-me

por inteiro

Ela impávida !

Mas não é o sonho que se esvai...

a realidade se mistura

se confunde

não acontece .

NADA

Tenho tudo nas mãos.

Todas as armas,

papel

caneta

e então ?

Não digo nada.

Estafa-me as repetida

repetições

Procuro.

SEM PAPEL

Fico calado a reabastecer

as aventuras de embrenhar-me

no mundo.

Direi o que o lápis

quiser ariscar

rabiscando o

substrato do ser.

Amanhã bem cedo irei cantar

O que ainda não consegui

dizer.

SEM NADA

Se é noite se é dia

sem sonho ou pesadelo

levanta-se dormindo

sem nada.

Sem sono sem discurso

de manhã até a noite

se mexe se vira

sem nada.

Sem paixão, sem amor

sem limites, sem férias

sem segunda sem domingo

sem feriado

sem nada.

No galope da tarde

na sombra, no cinza escuro

sem eira nem beira

sem sorriso sem lágrimas

sem Ave sem Maria

no branco amarelado

sem prosa sem verso

sem nada.

HOJE É SÓ(Reeditado)

Há certos dias

que dá um branco total .

nada se faz.

tudo inerte

tudo frio.

Um tremendo furo no vácuo.

não encontro meu espaço

totalmente abstrato

o que a mente

tateia

passeia em vão

e volta

ao coração

que não proseia

Há apenas um nó na garganta

e um brilho excessivo

nos olhos da emoção

que estonteia.

SEM RIMA SEM VERSOS (Reeditado)

Por mais que tente

que se aperte, invente,

é frio, é seco.

Por mais que busque

que procure que escute,

é pobre, é vento é só.

Por mais que corra

que grite socorro

é mudo, uma

nuvem, é pó.

Se aquieta se esconde

é cisco no olho

uma sombra,

uma rua, um beco

não sabe pra onde.

É janela fechada

menino chorando

mãos em abraços

nos ombros apertando.

Não fala, não canta.

Sem pranto,

nos olhos sem versos

nos lábios sem rima.