SEM SENTIDO

Pelas horas de ausência nesse poço aberto

um céu de amianto me vê tão ignoto

e vem me acordar em meu pasto já deserto;

indago abismos, acendo rosas, me embriago roto.

Tenho em mim mil anos de doeres

e entre olhos e olhares, e a oclusa porta

não movo meus pesares, nem prezeres;

não há infinitos ao quadrado da distância torta.

Folheia-me o vento uma página descorada

e vai transvivendo em mim quase triste;

sob raios póstumos da aurora arrebatada

subo ausente no degrau que inexiste.

Fecha-me a vida o último portal;

escorrem de mim as vésperas geladas;

mas o derradeiro poema está escrito, afinal.

Chaplin
Enviado por Chaplin em 14/04/2008
Código do texto: T945887