POESIA EM TEMPOS DE INDIGÊNCIA
Como buscar poesia em tempos de indigência?
As cenas pérfidas do cotidiano jorram como sangue
E há cicatrizes profundas em nossa alma
Mas é preciso haver poesia
A poesia sublima a pobreza espiritual
Haja poesia, haja luz...
O poeta não dorme
Embora suas retinas fatigadas estejam marcadas
Carregadas de dores das cenas do mundo cão
Sua mente viaja nas metáforas e nas busca de eufemismos
É preciso haver poesia...
O mundo tem fome de ternura , beleza, prazer
Então o poeta não dorme, não morre no caminho
Vai ao inferno, lava toda a maldição e a transfigura
Transforma a Bomba numa Pomba
A espuma branca do rio é negra noiva da morte
Vomita o fel da história com o aroma das rosas
Remexe as palavras em seu caldeirão de bruxo
Apronta poção mágica, bálsamo para as feridas
As cenas pérfidas do cotidiano jorram como sangue
E há cicatrizes profundas em nossa alma
No entanto é preciso haver poesia
A garotinha do Vietnã corre nua
Na praça da Paz o jovem está diante do tanque de guerra
Balas perdidas perdem o rumo pelo mundo afora
Mães choram seus filhos desaparecidos
Há o terror de Onze de Setembro pairando no ar
É preciso haver poesia diante do inconformismo
Entre o abismo que separa a loucura e a razão
Por que poesia em tempos de indigência?
Poesia é bálsamo para nossas feridas
Poder curativo de nossa chagas
Poesia é alimento
Alimento para o espirito não morrer de tédio
E celebrar a vida a cada segundo
Mesmo diante das indigências.