POESIA EM TEMPOS DE INDIGÊNCIA

Como buscar poesia em tempos de indigência?

As cenas pérfidas do cotidiano jorram como sangue

E há cicatrizes profundas em nossa alma

Mas é preciso haver poesia

A poesia sublima a pobreza espiritual

Haja poesia, haja luz...

O poeta não dorme

Embora suas retinas fatigadas estejam marcadas

Carregadas de dores das cenas do mundo cão

Sua mente viaja nas metáforas e nas busca de eufemismos

É preciso haver poesia...

O mundo tem fome de ternura , beleza, prazer

Então o poeta não dorme, não morre no caminho

Vai ao inferno, lava toda a maldição e a transfigura

Transforma a Bomba numa Pomba

A espuma branca do rio é negra noiva da morte

Vomita o fel da história com o aroma das rosas

Remexe as palavras em seu caldeirão de bruxo

Apronta poção mágica, bálsamo para as feridas

As cenas pérfidas do cotidiano jorram como sangue

E há cicatrizes profundas em nossa alma

No entanto é preciso haver poesia

A garotinha do Vietnã corre nua

Na praça da Paz o jovem está diante do tanque de guerra

Balas perdidas perdem o rumo pelo mundo afora

Mães choram seus filhos desaparecidos

Há o terror de Onze de Setembro pairando no ar

É preciso haver poesia diante do inconformismo

Entre o abismo que separa a loucura e a razão

Por que poesia em tempos de indigência?

Poesia é bálsamo para nossas feridas

Poder curativo de nossa chagas

Poesia é alimento

Alimento para o espirito não morrer de tédio

E celebrar a vida a cada segundo

Mesmo diante das indigências.

Aureni Costa de Sá
Enviado por Aureni Costa de Sá em 25/10/2008
Reeditado em 25/10/2008
Código do texto: T1246951