DEPOIS DA MADRUGADA

Sinto meus ossos alquebrados, durmo num leito de amargura;

Sofri insigne censura, perdi no jogo sem regras;

São inúteis as preces e rezas, sou dilacerada nau-criatura;

Na madrugada gritando por cura, varrido ao vento e sem velas!

Entre meus dentes o fel deprimente da injusta decepção;

Por dentro gemidos de exasperação, mandando dar cabo de mim;

Certeza do inesperado fim, nesse estopim em detonação;

Eu sou aquele convite vão, a quem a madrugada não disse sim!

O lírio aflito que o orvalho rejeitou;

O pão que se deteriorou no suco gástrico da desesperança;

A mão traspassada pela ponta da lança, criança que a mãe despistou;

Folha seca que a madrugada pisoteou, órfão da paz e sem herança!

Até que me vence o sono sob escombros da dor que me fez desfalecido;

Logo em sonhos detido, para me ver mais feliz como aqui não me vi;

Tudo que eu senti e que eu compreendi ser eterno castigo;

Não está mais comigo, pois já amanheceu e eu sobrevivi!

"Há sempre uma rua além da porta"

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 17/11/2008
Reeditado em 17/11/2008
Código do texto: T1288451
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.