Um adeus alegre

Prólogo:

"Vivam em paz uns com os outros. Recomendamos ainda o seguinte: aconselhem com firmeza os preguiçosos, animem os desanimados, ajudem os fracos na fé e tenham paciência com todos. Tomem cuidado para que ninguém pague o mal com o mal. Ao contrário, procurem fazer sempre o bem uns aos outros e a todos em geral."

(Bíblia, Primeira carta aos Tessalonicenses 5:13-15).

Muitas pessoas passam a vida atrás do "e viveram felizes para sempre" que lemos nos contos de fadas. Na vida real descobrimos que nem sempre existe o "mágico final feliz". O que existirá sempre é um homem e uma mulher aprendendo a expressar o seu amor na presença da egocêntrica natureza humana.

É através desta tensão que crescemos como indivíduos e como casal. É convivendo assim que descobrimos ser possível experimentar um relacionamento interpessoal ainda melhor do que qualquer conto de fadas escrito e colorido por pessoas que nem sempre cultuam as virtudes morais. Para isso basta viver intensamente o presente e morrer jovem o mais tarde que puder.

Por vezes, sozinho, Henrique conversava com seus botões e dizia: "Se me esqueceres, só uma coisa te peço, esquece-me bem devagarinho. Assim terei tempo de chorar bastante, sofrer o suficiente, purgar minha dor até que voltes e eu possa sorrir e ouvir, talvez um dia, de tua boca: "Que nada ou ninguém nos separe porque somos um casal sonhador".

Há situações em que tudo passa tão depressa que nem dá tempo de se despedir. Fica um vazio tão grande... é como algo estranho, um monstro imensurável, medonho, que parece engolir o ideal de um sonho colorido.

Assim é um tempo bom que se finda, um ente querido que parte em forma de luz para o infinito, um amor sublimado frustrado, uma não esperada decepção enaltecida, um caso malsão, perdido e/ou mal resolvido, uma vida que se esvai de forma lenta e gradual deixando um misto de amor, tristeza e saudade no sofredor que fica.

A paixão que os consumia virou cinzas! O que devia ser eterno durou menos que uma gestação desditosa. Alimentado pelo comburente da desconfiança e medo da culpa o amor fenece rápido, mas o adeus não precisa, necessariamente, ser triste e/ou deixar marcas profundas, efeitos devastadores no campo da psique.

Ele não quis imaginar as coisas que lhe aconteceriam. Henrique deixou-se seduzir pela sedução. Analu merecia e por isso ambos “cairam de cabeça” em uma relação extraconjugal ansiosa e famélica sem se prepararem para “o cair do pano”. Isso precisava acontecer? Ele não queria e tampouco estava preparado para essa infelicidade. Estaria?

Quando a menina-mulher dos seus encantos se enfastiasse, com suas poesias insulsas, o Ano Novo já teria chegado e já teria sido ovacionado pelos que acreditam em dias melhores. O autodidata acreditava no porvir. Analu enfrentava problemas de saúde. Isso mexia com sua libido, sensibilidade e situação econômica, mas ela não o deixaria, pelo menos neste ano que se finda, isso era fato.

O início da relação extramatrimonial foi incerto, meio confuso e incomum. Ela apenas sussurrou o seu nome e estendeu a mão direita olhando-o fixamente entre os olhos plúmbeos, anormalmente soturnos.

Henrique sustentou o olhar, sentindo uma comichão inquietante entre suas pernas. A pudicícia frustrou a inconveniência da ereção provocada de forma involuntária. Ela o excitava sobremaneira.

Daquele instante em diante todos os estranhos tornaram-se mais estranhos e jamais fariam parte da sua vida. Ora, possivelmente todos teriam seus próprios segredos, histórias escondidas em seus baús de ensinos e desensinos. Ao homem soturno e considerado estranho, nada mais interessava além da posse da alma de quem carinhosamente ele chamava de Santa.

Motivado por essa conquista bendizente Henrique foi capaz de escrever algo doido, mas lírico e transcendental o suficiente para fazê-lo flanar entre as turvações de seus pensamentos nem sempre exteriorizados por serem considerados difusos e emblemáticos, isto é, representação simbólica da essência do amor sem-fim.

“Colho de tua boca, o doce sabor do amor expressivo, que sei não ser só meu. E quanto mais provo, mais dou valor a tudo o que de forma sábia a vida, por trinta e dois longos anos, me escondeu. Tua face, morena, linda e faceira é um repouso certo para minhas mãos e teu rosto possui, no olhar enigmático a densidade da paixão que me profetiza a mística densidade da paixão”.

“Apaixonado, lanço-me sobre teu corpo veludo apreciando tuas emoções sublimadas, finais, no acme do gozo sentido. Abraço-te tão forte, quanto forte posso e juntos, ao mesmo tempo, desfrutamos sonhos coloridos e imortais. Amo teus encantos naturais, franqueza simples, doce malícia convincente nos modos informais, fazendo-me mergulhar em tuas dobras de pele em cheiros loucos e mundo de delícias carnais”.

O ano de 2008 foi excelente! Esse é um momento especial! Com a proximidade do fim do ano de 2008 é hora de olhar para trás, sorrir de alegria, e fazer uma retrospectiva, ver e sorrir por tudo o que já passou.

Henrique enfrentou com garbo, sem dúvida, muitas tristezas e conflitos, mas, felizmente, por inúmeros bons momentos, de alegria, de vitórias e de cumplicidade. Em verdade Henrique tinha todos os bons motivos para comemorar e dizer ao ano que agonizava um adeus alegre final. Esse poderá ser considerado o ano do reencontro.

O autodidata queria esquecer aqueles que lhe impuseram obstáculos infundados, os devedores, os maldizentes e agradecer àqueles que lhe impulsionaram adiante. É hora, mais do que nunca, de valorizar as amizades e os conhecimentos adquiridos quando conversou com senhoras e senhores, idosos, crianças e adolescentes.

Também era tempo de agradecer a Deus pelos momentos de prazer e subidas alegrias proporcionadas pelas conquistas pessoais e dos amigos próximos e distantes, da família, e elevar uma prece para os já desencarnados, pessoas leais, hoje espíritos de luz.

Ano Novo e vida nova. Tempo de avaliar o que passou, para repetir os acertos e corrigir as falhas, para perdoar e esquecer as mágoas. É hora de recomeçar. Tantas coisas aconteceram e, no meio da pressa, parece que nunca temos tempo para realizar nossos sonhos e projetos. Mais um ano se passa. Foi tudo tão rápido.

Você olha para trás e vê sucessos e decepções, tristezas e alegria, fantasias e realidades. O peso do ano velho ainda está em seus ombros, em sua vida, em seu coração. É tempo de parar. Decrete alguns dias de paz. Dê férias ao coração. Aceite meia hora de silêncio. Contemple uma flor. Deixe que sua voz interior sussurre ou grite: Paz!

Felizmente Henrique sabia que a despedida não é o fim de uma amizade, de um colóquio, de uma paixão ou amor mais íntimo do que possam imaginar os devassos. O autodidata acreditava que todas as vezes que Analu se despedia, após um telefonema ou esperado encontro, dava-se o início de uma grande e dolorosa saudade.

Nosso complexo de onipotência cria a ilusão de que podemos funcionar sempre, sem descanso. O resultado é trágico: estresse, o mal do século. Por isso e por muito menos RECOMENDO UM ADEUS ALEGRE ao fim de um colóquio, relação interpessoal, amor, caso, paixão, perda de um ente querido, de um (a) amigo (a).

Ah! Não posso e não quero esquecer: também recomendo por ocasião da passagem de ano (todos os anos) um adeus alegre porque devemos sempre esperar um novo, justo, merecido e iluminado alvorecer.