POEMAS PROFANOS: «Ó minha terra na planície rasa...»

Pergunto-me: "Será que profano demais uma poeta tão fecunda e deleitável como é Florbela Espanca, quando me inspiro -e alicerço- nos seus versos para criar os meus pobres e esfacelados?"

Mais me pergunto... Contudo, prossigo... Leio na poeta, no soneto «Pobre de Cristo»:

Ó minha terra na planície rasa...

Que me provoca a lembrar os versos do poema inicial de 'Aires da minha Terra', do poeta galego Curros Henriques:

Tu não podes morrer... Isso quiseram

os desleigados, que te escarnecêrom!

Mas tu não morrerás, Cristo das línguas;

Não, tu não morrerás, ouh Nazareno!

Antes dissera, noutra quadra:

Fala dos meus avôs, fala em que os párias,

de trévoa e de pó e de suor cobertos,

pedem à terra o grão da cor do sangue

que há de cevar à besta do laudémio...

Depois do "acontecido" na Galiza em que de novo o "pobo" deu maioria (mercê da trapalheira lei eleitoral espanhola) ao partido mais nacionalista espanhol, apenas posso dizer, "profanando" o verso de Florbela:

O minha Terra de eleição

que, com armadilha eleitoral,

o "Reino de España" submete

à planície rasa em extensão e em ideias

e em sentimentos (desumanos!),

és o Cristo da Ibéria, dessangrado pouco

e pouco até o debilitamento

final... Não haverá, no Mundo, quem se apiade

da miséria a que teus filhos

não deixam de colaborar, sem quase fé,

sem esperança, mas com recursos?