NADA MAIS HÁ A ESPERAR!
Do alto do convés
Uma voz balbuciava
Esquizofrênica, abusada
A contar só para mim...
Falava animada do mar
E dos mistérios de navegar
Proferia excêntricas histórias
De viagens por terras e águas
E monstros e seres de glória
Provocando furacões ao ar...
Se é mesmo isto
O que me aguarda
Bendita seja
Esta voz bastarda!
Nada mais há a esperar!
Que o mais breve
Esta nau parta...
Cem mil vezes
A brisa instável, incauta
Singrando as incertezas
Dos desígnios do mar
Do que esta existência barata
Nas calmarias dos dias de nada!
Infames rotinas
Estas de cortar batatas
Neste seguro porto,
Seguindo vivo
E, com efeito, morto
Dantes mesmo
De me enterrarem...
É por estas e outras
Que desejo
A mim mesmo
Uma péssima viagem!