CERTO DIA NO FUNDO DO MAR
Certo dia no fundo do mar
Uma ostra fora ferida
E dela nascera uma pérola
Pura, bela, verdadeira
Dor transmutada em amor.
Desejada, cobiçada
Às vezes até amaldiçoada
Lá estava ela, em sua certeza
Inteira, segura, faceira
Refletindo sua beleza.
Na beira do mar, sentado
Havia um jovem mergulhador
Que ainda esperava seu pai
Para com ele mergulhar
Sem ainda sua mão soltar.
Cheio de vontades, de sonhos
Faltava-lhe coragem, confiança
Melhor esperar a calmaria,
Deixar a tempestade passar,
Para então sozinho mergulhar.
Molhou o pé, gostou
Viu uma pedra, ponderou
Veio uma onda, recuou
Alguém chamou, retornou
E no desejo, ficou...
Dias, noites, meses, anos
Qual seria a calmaria?
Será que ela viria?
Quando mergulharia?
Quem sabe?
Em segredo guardado
Seu desejo ficava
E em silêncio esperava
Calado, anulado, estagnado
O dia de por si mergulhar.
Quem sabe viria com a maré
A pérola que tanto queria
Assim habituara-se a crer
Então lá continuava, acomodado
E para não sofrer, deixava de viver.
Ao seu redor muitos falavam
Dos grandes perigos do mar
Das enormes ondas traiçoeiras
Das arriscadas marés e suas luas
Das tempestades bruscas e sua fúria.
Até que um dia despertou
E ouvindo seu coração
Resolveu arriscar, mergulhar
Sua alma libertar, ser digno
De sua própria pérola alcançar.
Armou-se de coragem
Confiou, entregou, mergulhou
Livre de dúvidas, pleno de fé
Livre do temor, da dor
Apenas seguiu seu amor.
Ouviu sua intuição e descobriu
Que a tão temida tempestade
Era apenas na superfície
Pois lá no fundo do mar
A calmaria reinava absoluta.
Foi o que era
Deixou de resistir
Encheu-se de amor
Moveu-se com alegria
Ao Universo agradeceu.
Em si mesmo mergulhou
Em si mesmo confiou
Sua verdade aceitou
Nas águas se reintegrou
E com liberdade criou.
E hoje repleto de felicidade
Na prosperidade e naturalidade
Toca, sente, contempla e beija
Refletindo a plenitude de seu amor
Na pérola que tanto desejava.