SONHANDO VERSOS UNDERGROUND

Meus pensamentos fluem

Obliqua e obtusamente:

Sua natureza flerta

Com a tez da bruma

E com o reino da esguelha.

Meus pensamentos desejam ser

A porta aberta que guarda

A alameda da órbita

Onde reside os versos

Quais revelam os mistérios dos

Sítios subterrâneos da mente e da alma.

Meus pensamentos anseiam

Ser pavimentados pelo cimento

Da indignação por testemunharem,

Impotente e pungentemente,

O florescer de flagelos, Guantânamos,

Miragens de erudição, diamantes sanguinolentos,

Frondosas árvores da metropolitana velhacaria

E crisálidas crepusculando sob a ternura

Do descaso que emana do seio do átrio da antemanhã urbana.

Meus pensamentos são assim:

Querem ser versos

Que sejam o perfume da gente comum

Embora saibam-se cativos

Da frívola e tosca eloquência:

Vivenda da poesia vazia, vã!

Afinal, gostaria que meus pensamentos

Portassem o vírus da consciência underground

Para que pudessem extrair do cosmo alijado

A real noção da forma dos seres e das coisas

Por debaixo da derme fabricada.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA