Apenas uma luz

Um clarão rúgido percorre todo o mar

Repentino, tingindo-me o alvo peito

Um clarão vida nesta sombria vigília

Vejo numa dispersão um bando de pássaros

Que festivamente comemoram a nova aurora

Para eles tudo é novo, "neo vitalis"

O mar jaz agitado e suas ondas...

Ah! Ondas quebradiças, múltiplas

Umas quebram aqui, outras acolá

E o farol que recebeu os raios do último luar

E que empevecido contemplei a nesga de luz que sobre si caiu.

Ah! Como tudo está diferente

Procurava uma luz para guiar-me

Encontrei-a mas minhas pupilas puntiformes não a vê

Quisera eu fosse um navegante, ou um mero pescador

Para correr ao encontro da ofuscação

E ficar cego a ser lúcido nesta distância

O sol quase atinge o farol

Sua luz forte em pouco o encobrirá

Não é preciso mais esta luz artificial

Nada melhor que o natural das coisas

Deve haver o saveiro para o pescador e não para o sonhador ...

Que se atira ao léu à procura do nada

O céu está todo enevoado

O astro rei como que sai da janela onde espiava a paisagem

Talvez não seja um bom dia para sair

Pois não cobrirá toda esta hemi-esfera

Mas, nada, pior que a indecisão

É melhor tentar pois o frio acomete muitas almas que estão a esperar...

Quem sabe por um dia de luz, de calor...

AjAraújo, o poeta humanista.