O Menino que Roubava Cores

Uma caixinha de lápis de cor era tudo que ele tinha na mão

Seus pezinhos descalços batiam no asfalto fazendo um leve som

que se confundia com a rápida e ofegante respiração.

Com um grande sorriso, levou a caixinha para junto do peito

coberto apenas por alguns farrapos sujos

e na fuligem de seu rosto ainda espreito

o sonho que guardava a tanto custo.

Sabia que era errado roubar

mas dinheiro ele não tinha para comprar

e a caixinha se molhou com lágrimas de culpa

não entendendo o que tinha de tão errado em sua luta.

Queria uma cor inventar, uma que todos pudessem ter

sem precisar comprar ou pedir emprestado

sem precisar chorar para tê-la ao seu lado

Essa cor seria linda, linda como o mundo precisava ser

Pegou os lápis e começou a pintar experimentando todas as cores

Ele queria uma que quando olhassem esquecessem das dores

Que lembrasse só das coisas boas, e que desse a todos esperança

esperança essa que transbordava nos olhos daquela criança.

No papel um pouco sujo as cores se misturavam

Os pigmentos formavam cores e a cada cor formada

um sorriso se iluminava

no rosto do nosso pequeno sonhador

Até que enfim a missão foi cumprida!

Ele tinha achado o tom perfeito

e sem demora recolheu os lápis preparando sua ida

na esperança de mostrar ao mundo o seu feito.

Chegando em casa correu até o pai sorrindo

com o papel em mãos parou em frente a televisão

e quase levou um tapa no ouvido

por ter feito tal intromissão

Entregou o papel para o homem que não se deu ao trabalho de ver

Amassou e jogou no chão gritando com o nosso menino

dizendo que uma simples cor não mudaria aquele destino

que o mundo não iria melhor ser

com aquela invenção insignificante

e que ele deveria, pelo menos por um instante

crescer e entender que a vida não é feita pelos olhos de uma criança.

Cabisbaixo, o pequeno pegou o papel, desamassou e o abraçou

e assim como a caixinha de lápis outrora, aquele se molhou

Mas desta vez não de culpa, e sim de desapontamento

não entendia por que naquele momento

sua cor de nada valia

sendo que uma simples pomba conseguia

colocar esperança nos corações.

Dobrou o papel cuidadosamente e foi para o quintal

e mesmo sabendo que nada tinha feito de mal

enterrou a caixinha de lápis com o papel preso na ponta

pois o mundo não estava pronto para viver um “faz de conta”

narrado por uma simples criança

que ainda tinha a esperança

de viver em um mundo lindo.