Lavadeira

Água dos pés à cintura

Mulher guerreira de vida dura

Esfrega com força a existência na beira do rio

Enfrenta chuva, sol, calor e frio

As mãos ásperas expõem rachaduras

E a boca liberta antigas cantigas de ternura

Enquanto as horas passeiam pelo azul do tempo

O trabalho inglório corre sem alento

Montanhas de roupas sujas espalhadas

Morros de roupas limpas lavadas

Suor a emoldurar colo e rosto castigados

Braços e mãos a se debaterem alucinados

O rio a devorar as sujeiras das roupas e das almas

Sabão e suor são digeridos nas suas águas calmas

Antes do meio dia termina a batalha

Todo o trabalho do dia a lavadeira agasalha

Monta uma enorme trouxa que leva ao alto

E sai equilibrando a trouxa e a vida sem sobressalto.