A(Deus) professor

Ele já andava assim, meio de lado, parecia cansado.

Só na aparência, mas diariamente lá ia ele com os livros na mão.

Por vezes lia andando e esbarrava nos outros

Começaram a chamá-lo de louco

Mas ele sabia o que fazia e dizia que era para acordar as pessoas para a leitura

Havia se fechado em meio aos livros

Lecionava na escola suja e também em casa limpa numa sala improvisada

Poucos iam, mas é isso mesmo.

Muitos são chamados, poucos escolhidos e persistentes.

Soube do seu falecimento faz tempo

Estava em sala de aula com o giz branco

Escrevia sobre literatura, Lima Barreto...

Ao escrever Lim..., um risco foi cravado duramente no quadro:

____________________,

Primeiro em linha reta,

Depois uma curva até o local no qual se encontrava o apagador de pau

Repousando o corpo no quadro o impotente docente calou

O silêncio verde do quadro negro tomou a sala antes agitada

Ele se foi abraçado às linhas brancas sobre Lima Barreto

Não deixou o giz cair, sempre defendeu a economia escolar.

Faleceu em pleno amor com o trabalho

e em meio aos alunos

em meio aos livros

e ao que mais gostava de fazer.