Luthieria

Quando a viu era nada,

uma madeira cortada,

jogada num lamaçal.

Tomou-a em seus braços

e em sua oficina,

deu-lhe forma e textura

e as falhas cobriu com resina,

lixa nos nós com ternura.

Cada vez que a tocava,

mais bonita ficava,

buscando a perfeição,

deu-lhe um corpo perfeito,

formato de violão.

Sentiu-se realizado

e extremamente feliz,

ao untar-lhe todo o corpo

com selador e verniz.

Quando julgou terminado,

tomou-a em seu regaço,

esticou cordéis de aço

e lhe deu a harmonia.

Quando enfim terminada,

sendo assim linda e perfeita,

sofreu, mas sem desfeita,

pois teria que ser tocada.

Não mais por um marceneiro,

que faz da madeira ofício,

mas por qualquer violeiro.

Eis aí o grande suplício.

A este coube ensiná-la,

o que o outro não podia.

Pôs-se a tocá-la nas noites

em qualquer cervejaria.

De longe o luthier

não perdeu a esperança,

de um dia enfim rever

sua querida obra-prima.

Agora não mais criança,

a vida completou a obra,

de transformar a menina

em uma linda mulher!

Nesse simples pensamento,

por fim, ele compreendeu,

ser somente um instrumento,

a obra-prima é de Deus!

Kleber Versares
Enviado por Kleber Versares em 29/05/2010
Reeditado em 09/04/2023
Código do texto: T2288007
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