Culpa

Não te preocupes

por mandar-me embora.

Renascerei alguma hora

e talvez outro sonho me ocupe.

Já sinto corpos e almas;

teus temores acalmas,

pois se há algum medo,

ficará no meu degredo.

Em alguma avenida

acharei a metade perdida.

Reavivarei algum lume

e morrerá certo queixume

Continuará grande o Mundo,

esse saco sem fundo

da ilusão de Pandora

e da fome que nos devora.

De ti levarei bons momentos.

Estarás n'alguns pensamentos,

mas sem dores ou lamentos,

pois a Vida é troca,

qual fio na Roca

a tecer novas urdiduras

nessas mantas obscuras.

Se o Porto Seguro se foi,

que minhas velas enxuguem o que sofri,

e me preservem o gosto de sentir

a nova brisa que há de vir.