Brasil de Barro

Flagelo imenso, intensa dor, grande desdita

que rasga o peito e a voz da alma até entala,

chorando os seus, mas, com uma força inaudita

pouco a pouco, a si e a tantos inda acalma.

Vencendo a lama, as pedras e a enxurrada

que varrem casas, animais e até crianças

voltando ao pó, embora, em forma de barro

não se desgarra da fé, da vida e da esperança.

Os seus parentes, amigos ou conhecidos,

já entre tantos mortos identificados

não freiam a força em cuidar dos esquecidos,

dos sem ninguém, pelo Estado abandonados.

Parece até doer na alma, muito mais,

o constatar do eterno e cruel abandono

de quem devia evitar tão tristes ais

a um povo alegre, em meio a um sofrer tamanho.

Mas, logo, vamos esquecer no carnaval

o estrebuchar e a dor dos pobres excluídos,

sem atenção e sem leitos nos hospitais

e, aos foliões “a camisinha” garantida.