Os homens se constroem no tempo

Nasci no frio do vazio

Da placenta de minha

Doce genitora

Nasci menino, oco,

Amarelado e sem caldo

Nasci como um cão,

Sem nome, sem endereço,

Sem pai, nem mãe

Nasci caído, defecado

Esparramado, jogado no chão

Nasci como um verme escarrado,

Encontrado em um latão

Nasci escondido num canto,

Nasci maltratado em prantos

Mas dessa desgraçada época

Não guardo magoas

Nem ressentimentos

Muito menos a dor

De não ter nascido

Num berço de ouro

Ou numa manjedoura

Porque os homens se

Constroem no tempo

Cresci um louco, um doido

Um porco imundo

De um lodo defunto

Cresci e com a vadiagem aprendi

A ser um moleque rebelde

Ardiloso e maldoso

Cresci, um homem me senti

Um selvagem um homem do mato

Cresci, num melancólico agouro

Sem dó nem choro, em puro desaforo

Cresci, e na rua despido vivi,

Com fome e com sede varias vezes dormi

Cresci, não tive a sorte de roubar ali...

Fui preso, apanhei, sofri, sofri, quase morri

Mas cresci, consegui sair dali

Paguei minha divida com os caras ali...

E agora só penso em sumir

Não mais, quero viver assim

Porque os homens se

Constroem no tempo

Cresci, um novo homem me senti

Cresci, um padre conheci

Um pouco aqui um pouco ali

Assim com ele aprendi

O dom do amor e da compaixão

Agora só espero conquistar tudo

O que nunca tive e o que perdi

E como um novo homem

Nascer e crescer

Porque quero uma chance

De me sentir como outro ser

Porque os homens só se constroem

Com o tempo...

Nascendo, vivendo e crescendo

Tornando-se verdadeiros homens

Marcello dos Anjos
Enviado por Marcello dos Anjos em 01/07/2011
Reeditado em 09/08/2011
Código do texto: T3068441