Os homens se constroem no tempo
Nasci no frio do vazio
Da placenta de minha
Doce genitora
Nasci menino, oco,
Amarelado e sem caldo
Nasci como um cão,
Sem nome, sem endereço,
Sem pai, nem mãe
Nasci caído, defecado
Esparramado, jogado no chão
Nasci como um verme escarrado,
Encontrado em um latão
Nasci escondido num canto,
Nasci maltratado em prantos
Mas dessa desgraçada época
Não guardo magoas
Nem ressentimentos
Muito menos a dor
De não ter nascido
Num berço de ouro
Ou numa manjedoura
Porque os homens se
Constroem no tempo
Cresci um louco, um doido
Um porco imundo
De um lodo defunto
Cresci e com a vadiagem aprendi
A ser um moleque rebelde
Ardiloso e maldoso
Cresci, um homem me senti
Um selvagem um homem do mato
Cresci, num melancólico agouro
Sem dó nem choro, em puro desaforo
Cresci, e na rua despido vivi,
Com fome e com sede varias vezes dormi
Cresci, não tive a sorte de roubar ali...
Fui preso, apanhei, sofri, sofri, quase morri
Mas cresci, consegui sair dali
Paguei minha divida com os caras ali...
E agora só penso em sumir
Não mais, quero viver assim
Porque os homens se
Constroem no tempo
Cresci, um novo homem me senti
Cresci, um padre conheci
Um pouco aqui um pouco ali
Assim com ele aprendi
O dom do amor e da compaixão
Agora só espero conquistar tudo
O que nunca tive e o que perdi
E como um novo homem
Nascer e crescer
Porque quero uma chance
De me sentir como outro ser
Porque os homens só se constroem
Com o tempo...
Nascendo, vivendo e crescendo
Tornando-se verdadeiros homens