COMO AS FLORES DOS IPÊS

Agora a morte não me importa,
Os resíduos, os destroços,
Não me importa a vida torta,
Envolvida por tantos porquês,
Se eu sou passado para você,
Se o nosso amor já não é nosso,
Não importa a incerteza do amanhã,
Se as entrelinhas da minha poesia e vã,
Se vãs são as páginas do meu caderno,
Não me importa o pranto que desce lento,
As densas nuvens, a força do vento,
A distância do barco em relação ao farol,
Importa que o sol ainda é sol,
Que vai se desfazendo o inverno,
Que nas frondes das minhas entranhas,
Canta livre um rouxinol,
Importa que a esperança me acompanha,
Amanha o meu cansaço,
Que brilho como as flores dos ipês,
Acredito que sou capaz, que posso,
No vôo que me enleva, rompo espaço,
Vivo a magia desse instante - renasço...