Tempo novo
De vez em quando, alço olhares sobre o campo,
ferindo a vista, que se perde na amplidão;
deixo que a tarde ganhe o ruflar das asas
dos pensamentos, que voam, sem direção...
Que inquietante o cenário deste Tempo:
tantos progressos nos marcando a evolução,
indo, o Homem, à conquista d’outros mundos;
porém, no fundo, entregando o coração.
Como pudemos ter tamanha competência
para criarmos invenções inusitadas
e não jogamos nossas luzes de consciência
sobre os males – de que a Terra está tomada?!
Como pudemos ter tamanha competência
criando armas p’ra fazer destruição,
se, bem mais fácil e honroso nos seria
matar a fome e acabar co’a exploração?!
Como podemos lançar olhos p’ro Universo,
e focar nele nosso gênio criador,
se é entre os homens que devemos trabalhar
buscando a paz e combatendo o desamor?!
Rola uma lágrima sentida no meu rosto
- tal é o desgosto na minha constatação:
que hoje em dia haja abismos entre os homens
feitos de fome, ódio, mágoa e desunião...
E me pergunto: adianta ganhar a palma
se a nossa alma for o preço dessa glória?
Truinfos que fazem o Homem perder a essência
não são motivos p’ra cantar tanta vitória!
Mas tenho fé e acredito – bem a fundo –
que este mundo, um dia, vai melhorar.
Viverá, o Homem, sem mágoa nem aflição,
c'o coração batendo em função de amar.
Um tempo novo, onde espadas sejam relhas
arando a terra p’ras searas do porvir;
onde as crianças tenham aura de esperança
e os homens, livres, dêem as mãos p’ra construir!