Roda Viva
Já vem chegando às 6 horas. Do dia ou da noite às
6 horas se fazem início e fim. É hora de chegar e
partir. Homens, mulheres, jovens e crianças esperam
na estação ou na parada a sua santa condução.
Orando o pai nosso, cada dia se faz o nosso
pão diário que de nosso suado trabalho se torna muita
vezes nossa fraqueza, dificuldade e limitação.
São dezenas, centenas de corpos jogados que se
amontoam nas paradas, e sem ver a vida
passar, o tempo passa, no vagão no silêncio,
no aperto e no cansaço.
Conduzidos chegam tarde. As sete ou as oito,
se perdendo no tempo que não perdoa e arranca
a vitalidade e o direito de viver a cada dia.
Ô Pão nosso, fruto de nosso suado trabalho onde
estás a justiça para esse povo que de tão sofrido e
esperançoso não distingui mais sua vida de sua cina?
O preço é alto. Pago pelas mãos cheias de calo que
para um sistema disfarçado e visivelmente desgastado
apela para sua podridão explorando vidas em nome
de sua ordem e de seu progresso que vislumbra apenas
seu flagelo e seu crescimento que sob uma nação de
miseráveis que para sustentar-se, fingidos de faraós da
verdade construindo suas mentiras e distorcendo a realidade.
Esse é o valor do status, da pose e do salto, que sob
nós seus ternos e vestidos querem fazer surgir. Escravos
de suas verdades, o povo segue sua realidade, alimentado-se
de esmolas sem enxergar a verdade, caminhando
novamente para às 6 horas, e assim fazer girar a roda
vida de suas vidas esperando na esperança de um novo dia,
um novo sol sobre esse povo brilhar.