"COLHENDO FACES"

Às vezes estou no silêncio de meu quarto,

Curtindo a solidão, que às vezes tanto me apraz,

De repente da uma fome de gente!

Então, o silêncio e a solidão já não me satisfazem.

Fico inquieto e minha alma ronca de fome de gente!

Não há outra saída, senão sair! Visto-me e parto,...

No centro da minha Cidade Morena, digo: Vale à pena!

Minha alma gulosa de gente se sacia se delicia, se farta,...

Gente aos magotes: ali vai um velhote, sorridente

Com a boca quase sem dente; Acolá um grupo de jovens

Com suas belezas bem hidratadas, todos viçosos,...

Ó jovens quão rápido desidrata, murcha essa beleza,

Cuidem bem dela, que dela precisam, mas, com franqueza,

Cuidem muito mais do Ser Real que dá viso a tal beleza,

Pois, se o impiedoso Tempo é devorador da fugaz beleza,

É muito generoso com o Ser Real e cada dia mais o embeleza!

Sigo em minha caminha: olhe ali, na calçada... aquilo é gente?

Aproximo-me: um ser humano, embrulhado em sujos panos!

Mas, desde que gente é gente há mendigo, penso, não digo,

Meus ouvidos não suportariam tamanha banalização da dor...

Mas, prossigo, a cidade fervilha num vai e vem a todo vapor!

Eu, poeta, fazendo colheita de faces e guardado-as com zelo

No meu coração, em minha mente, depois as farei poesia

Misturando as expressões de dor, tristeza, ódio, amor, agonia,...

Moldá-las-ei com muito amor, respeitarei suas dores e alegrias!

Sentindo-me empanturrado de gente, saio devagar, calado,...

Gente demais, seus ais de alegria e de dor causam-me enfado!

No meu quarto, laboratório de poemas, o silêncio, a solidão,...

Música, nada melhor que uma boa música e um café quente,

Mas, primeiro um banho,... o carinho da amada,...esse me falta!

Manoel de Almeida
Enviado por Manoel de Almeida em 21/01/2012
Código do texto: T3453737
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