NOITE 
 
 
I
 
Ainda frágil, a noite escava nostalgias,
Beijos fósseis, escória
De sonhos e mitos, destroços
Do pretérito, da indulgência dos moços...
O relato do passado escava fantasias,
Assim à noite, quando retira do fosso
A dor sentida — e inventa histórias.
 
Nosso passado, hoje tão cheio de luz,
(Tão frágil noite!), agora se retira
Do fosso transmudado de cor,
Troca névoa por esperança. Induz
Nossa mágoa consumida por
Claridade de nova mentira.
 
Nosso passado troca névoa por esperança.
 
  
 
II
 
Mas, o que fazer com a noite frágil,
Clara como um sol do meio-dia,
Tão estrelada de fantasia,
Tão festiva, tão clamorosa, tão grácil?
 
Por que desapegar do sonho vindo
Numa noite com um sol no meio,
Se a paixão improvisa um passeio
E nunca geme pelas dores que vai sentindo?
 
Por que suspeitar de uma noite grácil,
Tão inventiva, calma, tão versátil?
 

Milton Moreira
Enviado por Milton Moreira em 25/03/2012
Código do texto: T3575590
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