CAVALO À SOLTA NO MEU PEITO

Chove, porque assim tem de ser,

E eu paro para te ver,

Cavalo à solta no meu peito.

É uma chuva que só eu consigo vislumbrar

E dou por mim a cantar

Um belo soneto a seu jeito.

Não à cigarra que cante,

Não à chuva que molhe tanto,

Como esta

Em que te levo o meu pranto.

É uma chuva medonha

Que cai na terra enlameando-a,

Pobres dos narcisos e da cegonha

Encharcados de tanta água,

Que em mim fica a mágoa

De não te ter junto a mim.

Sou um néscio

Um alecrim,

Que não entende a procura de deus

Neste mundo sem fim.

A nós nos justificamos,

Essa procura incessante,

De algo insignificante.

Palavra castrada,

Espoleta de uma granada

Que nos decapita braços e pernas.

As minhas palavras não pretendem ser ternas,

Só sei que chove lá fora, porque assim tem de ser

E eu dou por mim a tremer

Por não te ter junto a mim.

E este poema só terá fim

Quando parar de chover

Dentro de mim.

Chove,

E assim está certo

E assim tem de ser.

Jorge Humberto

29/01/07

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 29/01/2007
Código do texto: T362723