EU GRITO
eu grito
meu grito é finito
grito oprimido
pelas notícias do mundo
pelas balas perdidas
pelas crianças feridas
e mortas
pelas portas fechadas
pelas expostas feridas
pelas mãos aflitas
segurando o sangue
que insiste em jorrar
pelas janelas fechadas
nas favelas
nos edifícios
nas cidades do interior
eu grito
meu grito é sufocado
pelo grito das sirenes
das ambulâncias
das radiopatrulhas
pelo som dos freios
dos carros que arrastam crianças
dos berros de fera
dos assassinos
eu grito
meu grito é um verso roto
que já nasceu morto
no branco do papel
mas grito!
e insisto no grito
alguém há de me ouvir
mesmo a humanidade
plenamente surda