GUERREIRA

Com agulhas de tricô,
ponto para dentro,
ponto para fora,
pensei que tecia minha vida.

Pensei que haveria linha suficiente
que me completasse e agasalhasse...
Qual nada, sinto-me incompleta
um trabalho manual inacadado
              sem serventia de uso
                                 sem molde
                                      sem forma
                               sem cores definidas.

As matrizes e matizes usadas foram  inadequadas:
não cabiam o tamanho de minha alma,
não retratavam minhas cores.
Parte de mim ficou desabrigada
e me vi metade nua,
me vi andando na rua
com roupa de tecitura invisível.
com roupa de espantar olhos...

                  Faltou-me um chapéu de palha,
                  faltou-me um cabo de madeira
   para que os meus braços se abrissem para o mundo.
                   Não sou boneco de enfeite
               nem espantalho que assuste à dor.
                     Comeram meu milharal
                 e foram muitos os pardais,
       não deixaram nem uma espiga para meu sustento;
           e eu, estática, não espantei meus males,
      os quais foram corroendo as minhas vísceras
        foram conduzindo-me a inércia do sem-igual,
              cansada, perdida, em meio ao matagual. 

Palhaça da vida
sem riso e sem medida para tudo.
Há quem pouse em mim,
há quem não me queira como estou vestida;
com as vestes que eu mesma teci
vestes das minhas mãos, das minhas dores...

Chega!!!! 
Digo eu, querendo espantar a dor.
Não sou espantalho
posso sair de onde estou.
Não há barreiras que eu não possa transpor!
 
Divina Reis Jatobá
Enviado por Divina Reis Jatobá em 29/03/2007
Reeditado em 07/07/2008
Código do texto: T429861
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