Inóspito
Ainda chovem sentimentos de esperança
No peito do crédulo que ousa sonhar:
A quimera do mundo novo, renascido, impoluto;
Como se todas as mãos fossem fáceis de lavar.
A revolução é a fénix dos ultrajados.
O caminho faz-se de promessas esquecidas:
Sonoras, harmoniosas, apesar de efémeras;
Fecundam cada chama inócua, adormecida
Daquele, que amanhã renasce no frio terno
Da realidade que o embala com mãos de gelo,
No sopro do fogo por onde caminha e se consome.
Distrai-se na aparência das gotas brilhantes.
Esquece que o futuro é o presente, e
Este é apenas o passado mais próximo,
Já de si ausente, nem sempre próspero,
quase sempre imaturo. Inóspito?
Como acender a chama do amanhã?
Se cada passo é solitário e inconsequente;
Perene como pegadas de areia nas manhãs
Das marés vivas e ventos contrários.