Sou um livro

É quando a tarde cai de manso

Junto com o sol que vai dando o tom laranja

Para o resto de nuvens do céu

E a cidade vai silenciando

Dando lugar as canções dos botecos

E as risadas dos desesperançosos

É quando da janela do meu quarto

Apago a brasa do meu cigarro

E me dou conta que no meu jardim

Não tem a flor que um dia plantei

Porque já extrai todo perfume

E o mel

É quando acordo pela manhã

Me dando conta que minha cama

É do tamanho do deserto

E o vento que entra pela fresta da janela

Uiva um lamento de saudade

De um tempo que nunca tive de verdade

É quando leio um poema

Que precisa ser decifrado

E olho para o lado e não tenho com quem debater

Meus sentidos perdem todos os sentidos

Parece que falta um pedaço de mim

Ou até mesmo alguém

É quando tudo isso acontece

Que me dou conta

Do tanto que sou incompleto

Sou dependente daquilo que não sou

Ou do que não sei

É quando isso acontece

Que me prontifico a aprender

A me amar mais ainda

Sou um livro ainda cheio de páginas que não li

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 07/11/2013
Reeditado em 07/11/2013
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