Sou um livro
É quando a tarde cai de manso
Junto com o sol que vai dando o tom laranja
Para o resto de nuvens do céu
E a cidade vai silenciando
Dando lugar as canções dos botecos
E as risadas dos desesperançosos
É quando da janela do meu quarto
Apago a brasa do meu cigarro
E me dou conta que no meu jardim
Não tem a flor que um dia plantei
Porque já extrai todo perfume
E o mel
É quando acordo pela manhã
Me dando conta que minha cama
É do tamanho do deserto
E o vento que entra pela fresta da janela
Uiva um lamento de saudade
De um tempo que nunca tive de verdade
É quando leio um poema
Que precisa ser decifrado
E olho para o lado e não tenho com quem debater
Meus sentidos perdem todos os sentidos
Parece que falta um pedaço de mim
Ou até mesmo alguém
É quando tudo isso acontece
Que me dou conta
Do tanto que sou incompleto
Sou dependente daquilo que não sou
Ou do que não sei
É quando isso acontece
Que me prontifico a aprender
A me amar mais ainda
Sou um livro ainda cheio de páginas que não li