A oração da depuração

É chegada a hora da depuração

Ratos corroem o resto mortal

Da minha comedida solidão

Que vai desvanecendo junto ao temporal

É chegada a hora de dizer adeus

Àquele vazio ensurdecedor

E num silêncio em oração pedir a Deus

Que brote no meu peito mais uma flor

Já não sei mais como dizer “eu te amo”

Não me lembro mais do tato de um regaço

Nem de como num beijo me inflamo

Meu peito de sanhaço se fundiu em aço

É chegada a hora de varrer o quintal

Podar as árvores e suas sombras frias

Varrer as folhas secas do mal

Que caíram quando chovia

Vou ouvir o canto das águas da cachoeira

Batendo nos meus ombros largos

Na estrada vou deixar pra trás a poeira

Que repousara em minha boca o seu gosto amargo

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 11/12/2013
Reeditado em 11/12/2013
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