A oração da depuração
É chegada a hora da depuração
Ratos corroem o resto mortal
Da minha comedida solidão
Que vai desvanecendo junto ao temporal
É chegada a hora de dizer adeus
Àquele vazio ensurdecedor
E num silêncio em oração pedir a Deus
Que brote no meu peito mais uma flor
Já não sei mais como dizer “eu te amo”
Não me lembro mais do tato de um regaço
Nem de como num beijo me inflamo
Meu peito de sanhaço se fundiu em aço
É chegada a hora de varrer o quintal
Podar as árvores e suas sombras frias
Varrer as folhas secas do mal
Que caíram quando chovia
Vou ouvir o canto das águas da cachoeira
Batendo nos meus ombros largos
Na estrada vou deixar pra trás a poeira
Que repousara em minha boca o seu gosto amargo