Nau dos Sonhos
Maria Antônia Canavezi Scarpa
Nem sempre quando a escuridão desce
o silêncio que desembarca nessa nau seja mágico
trás com eles fantasmas ousados
que pairam sobre mim como névoas
sussurrando que os meus sonhos são falsos
e daí não adianta querer zarpar para outro porto
a noite me transforma em grãos de areia solitários
Fico tímida me amparando nas conchas
que brincam de me oferecer aconchego
como se somente assim eu possa
atravessar o oceano com meus alforjes
repletos de muitos desejos e imensas esperanças
tendo uma sutil neblina embaçando os meus olhos
Fugir assim em busca de novos ciclos me deprime
ainda mais vestida de cortesã dos meus impulsos
na ribalta da utopia que envolvo minhas volúpias
embalada e bêbada pelas marolas
vou me impulsionando para as estrelas
tocando as espumas que o bravo oceano me presenteia
Bolhas e mais bolhas vão se sobrepondo
no meu imaginário fértil umas as outras
e em cada uma delas vão se estourando flashes
das minhas multicoloridas ilusões
apenas com o leve toque da brisa da manhã
que no cansaço me avisa, que ainda estou
tão longe do meu destino...
Há um mundo imenso além dessas marés
e para que eu o alcance devo continuar
navegando por todos os momentos que se apresentar o céu
desde o ouro da manhã ao vermelho esmaecido do arrebol
para a negritude da noite sem estrelas
mas já me acostumei ouvindo o marulho do mar
nessa nau que parti para não desistir...