Limpando minhas lembranças

Maria Antônia Canavezi Scarpa

Chegou a hora de jogar tudo fora

todas as minha velhas lembranças

guardadas em tantas pequenas caixas

que hoje me parecem emboloradas e frias

meio as minhas gavetas

Vou abrir todas as janelas

para que o ar puro remova

o cheiro de bolor

que emana dessas recordações

levando pra fora junto com a brisa

o olor do envelhecimento

Elas estão em todos os cantinhos

embaladas com requinte

e todas amareladas com o tempo

frágeis rasgam como papéis

quando as toco, perderam o viço

São tantas histórias armazenadas

com carinho através dos tempos

mas hoje sinto-as grandes demais

ocupando todos os espaços

e preciso removê-las

dar lugar para outras realidades

Não devo chorar nada

conterei as lágrimas

para não ficar frágil na hora da decisão

caso contrário nada farei

mas hoje...acordei determinada

cansei de cair no vazio

Limpando tudo abrirei as portas

para uma realidade imprevisível

sem mágoas ou ressentimentos

caminharei pra um novo tempo

reestruturando minhas forças

pouco a pouco

Tomei uma decisão sensata

varrendo tudo de forma igual

não deixarei sequer um único vestígio

e nenhuma embalagem

será violada ou revisada

Lá no quintal do meu mundo

farei um amontoado de tudo

e sem remorsos atearei fogo

até que todas as chamas sejam

reduzidas a fumaça e

depois cinzas

Com paciência esperarei

que um dia de chuva

venha tempestuoso, levando

esparramando cada partícula que restar

misturando a terra sem volta

todas as minhas lembranças

Tília Cheirosa
Enviado por Tília Cheirosa em 17/05/2007
Código do texto: T490976
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