Limpando minhas lembranças
Maria Antônia Canavezi Scarpa
Chegou a hora de jogar tudo fora
todas as minha velhas lembranças
guardadas em tantas pequenas caixas
que hoje me parecem emboloradas e frias
meio as minhas gavetas
Vou abrir todas as janelas
para que o ar puro remova
o cheiro de bolor
que emana dessas recordações
levando pra fora junto com a brisa
o olor do envelhecimento
Elas estão em todos os cantinhos
embaladas com requinte
e todas amareladas com o tempo
frágeis rasgam como papéis
quando as toco, perderam o viço
São tantas histórias armazenadas
com carinho através dos tempos
mas hoje sinto-as grandes demais
ocupando todos os espaços
e preciso removê-las
dar lugar para outras realidades
Não devo chorar nada
conterei as lágrimas
para não ficar frágil na hora da decisão
caso contrário nada farei
mas hoje...acordei determinada
cansei de cair no vazio
Limpando tudo abrirei as portas
para uma realidade imprevisível
sem mágoas ou ressentimentos
caminharei pra um novo tempo
reestruturando minhas forças
pouco a pouco
Tomei uma decisão sensata
varrendo tudo de forma igual
não deixarei sequer um único vestígio
e nenhuma embalagem
será violada ou revisada
Lá no quintal do meu mundo
farei um amontoado de tudo
e sem remorsos atearei fogo
até que todas as chamas sejam
reduzidas a fumaça e
depois cinzas
Com paciência esperarei
que um dia de chuva
venha tempestuoso, levando
esparramando cada partícula que restar
misturando a terra sem volta
todas as minhas lembranças