Bons tempos virão!

Bons tempos virão!

Assim soava a esperança do menino diante da situação que viviam.

À mesa eram dez:

A mãe, cinco filhos, duas noras e um neto.

Naquela casa, há muito a necessidade se fazia presente.

O pouco que tinham à mesa devia ser suficiente para lhes manter até o dia seguinte,

O que nem sempre era fácil.

A hora das refeições era sagrada, sempre fora

Da forma como lhes ensinara o falecido patriarca.

No café, no almoço e no jantar

Todos sentavam-se à mesa, cada qual em seus lugares

E oravam em agradecimento ao pouco que tinham.

Família simples...

Sempre valorizavam aquele momento,

Pois era principalmente ali que conseguiam, juntos,

Compartilhar do pouco alimento e do imenso amor de sua velha matriarca.

Pouco, muito pouco à mesa:

Apenas um bule de um ralo café e uma quartinha d’água,

Um cuscuz feito de fubá cuja massa foi adicionada de uma xícara de farinha de mandioca;

E a mistura... os últimos três ovos da última compra.

A velha senhora dividia tudo com muito cuidado

Para que todos pudessem alimentar-se de igual maneira.

Todos comendo, eis que o primogênito, sentado a outra cabeceira,

Rompe o silêncio e esperançosamente pede:

- Mãe, passa a manteiga. Mano, passa o queijo.

Uma das irmãs o repreende, pois entende tratar-se de deboche.

A maioria, nada diz.

Mas a velha senhora admira-se ao ver seu tímido neto sorrindo diante dos pedidos do pai.

- De que ris, meu neto? Achas engraçado teu pai gozador?

Então, o menino fita os olhos da avó e sorrindo lhe diz:

- Bons tempos virão, minha vó! Bons tempos virão!

Robespierre Araújo Silva

Robespierre Araújo Silva
Enviado por Robespierre Araújo Silva em 10/08/2014
Código do texto: T4917645
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