Ao Narciso de Cinza
De Narciso negro e impoluto veio um ilusório desventurado
Que ele aprenda a colher melhor suas esperanças simples
Transtorna-se na escura vilania das florais considerações
Uma loucura intensa que lhe é aroma, valentia descuidada
Vem de longe esse que assombra no jardim a colher anjos
Das negras asas de seres que de angélicos só a formosura
Recolhe contigo o Narciso mais intacto sem ferir amargura
Sobes ao altar com essa verve de alma sórdida desfolhada
Entregue ao mais amor, ao mais alçado e requerido desejo
Estas folhagens mal-sãs tão redimidas inatas destemidas!
Alimente os Narcisos que colheste em mal juízo e tentação
Esquecestes das outras mais brandas sem espinhos fortes
Destes ao túmulo dessa sua ingrata amada e já adormecida
Não plante a ingratidão no mais acumulado túmulo forçado
Ai, Narciso, negra flôr de um jardim sem sorrisos ou fadigas
Ofereça a este ingrato tão distante, a sina de sua solidão!