Em dia mundial da poesia

É proibido não rir dos problemas

Não lutar pelo que se quer,

Abandonar tudo por medo.

Pablo Neruda

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Ao nascer,

não sei se por defeito ou por fortuna,

minha mãe deixou esquecida

num cantinho de mim

uma arca escondida.

Fui crescendo com a arca por aqui

entretido no medrar e no brincar,

sem saber donde vinha

e se surgira por acaso ou por azar,

nem qual a sua cor ou serventia.

Até que um dia,

lá pelos quinze, descobri

que a minha arca recolhia, carinhosa,

as letras soltas que eu lançava pelo ar,

alinhando-as em jeito de ilusões,

ora suaves, ora aos safanões.

Fui com elas soletrando, perplexo,

palavras soltas, vividas, mastigadas

num canto da alma ou pensamento.

E num momento fugaz daquela aurora

um primeiro poema germinou.

É nesta arca esquecida

que minha mãe me deixou

escondida num cantinho de mim,

que arrumo temores e sofrimentos

e converto como por magia

o medo e o abandono em poesia.