NA ENSEADA DA VIDA

Meu pai tinha olhos mareados

De tanto olhar pro mar

Suas pupilas eram duas ostras a nos olhar

Hoje quando quero senti-lo

É só mergulhar na corrente do mar

E sinto sua benção um fanal guia

Nas borbulhas que me fazem cócegas

Na pele escamada pelo sal

Quando sinto seu abraçar de enguia...

Tantas crianças se desprenderam sem rumo e a nau

Se perderam até chegar

Ao óvulo ventrecha da tua praia...

Minha mãe entre furos e vertentes

Sou-te farol iluminando minha enchente

Não foi à toa que afluente

Cheguei nas margens de tua gente

Quantos milhões de irmãos pra trás deixei

Como peixes que morreram na rede

Porque não também de sede

Antes de chegar a maresia de teu ventre...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 03/04/2015
Código do texto: T5193168
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