Se você chegasse antes de eu partir.
Antes de eu me despedir de tudo.
De apagar os vestígios e os rastros
por toda a casa,
por tanto caminho trilhado.
 
Há o meu cheiro ainda nos lençóis.
Há fios de cabelos meus no  banheiro...
Há poesias rabiscadas em mil cadernos
com letras alteradas,
humores variados e,
 um gota ressecada de lirismo.
Lirismo contemporâneo.
Apressado.
Expresso. Espumoso.
Um jato imaginário,
 com alma de vidro.
Ou um cristal holográfico
tatuado na retina.
 
Se você chegasse, antes de eu partir.
De fechar a porta.
Trancar.
Guardar as chaves.
E esquecer-se nos segredos da porta.
 
Se você chegasse à beira do cais.
E visse os abismos movediços que
dormem quietos nas ondas.

Ouvisse o marulhar a sussurrar
confidências de Netuno.
Ou os laivos lascivos das sereias.
Meio mulher e meio peixe...
Meio desejo e meio arrependimento.
 
Se você entendesse
essas metades incongruentes
 exímias arquitetas de paradoxos
e metáforas.
Que é preciso abandonar corpos.
 
Você entenderia que preciso partir.
Que é preciso se arremessar ao infinito.
Que é preciso mergulhar no impreciso
Espaço que existente
entre um amor e um afeto.
 
Se  você entendesse
As frestas infinitas que
Há nas interseções
Talvez, você partisse comigo.
Para aventura diária
De se perder
Para se encontrar.
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 22/04/2015
Reeditado em 26/04/2015
Código do texto: T5216601
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