Ele e ela (o início)

Neste instante eles não se conhecem.

Ainda é manhã de outono.

Eles vivem em mundos completamente diferentes.

O sorriso pleno dela engana. Não é alegria. É de dor.

Ele não faz ideia de que mesmo ferida ela ainda acredita.

Ela sempre chora antes de dormir sentindo uma dor muito grande na alma por conta de uma culpa que não foi sua e ainda teima em carregar como se fosse porque dias nublados a fazem lembrar-se de algo que a assombra nas noites mais escuras.

Ele também tem feridas incuráveis no seu coração porque sabe do que algumas pessoas são capazes para chegarem ao topo.

Com um sorriso faz de conta que é feliz.

Todo mundo faz, ele muito mais.

É regra. Não por curtidas. A vida não oferece alternativas mais maleáveis.

O sorriso tenta enganar aos olhos e até certo ponto consegue.

Ela se sente triste por nunca ser aceita em lugar nenhum, porque seus esforços são vistos com indiferença, porque mesmo tentando, nunca consegue ser igual às outras.

Ele nem sequer imagina que um dia ela vai ser sua melhor amiga.

Ela costuma ser sua melhor amiga, as outras se envaideceram pelo número de seguidores e tentam comercializar o dom.

Ele um dia vai abraçá-la tão apertado que não vai sentir vontade de largar.

Ela vai corresponder com muita vontade porque também não vai querer largar.

Ele vai segurar em sua mão e não vai disfarçar a emoção de pedi-la em namoro.

Ela dirá sim muito antes de sua voz encantá-lo.

Sempre será sim.

Ele vai mostrá-la que quando uma pessoa ama a outra de verdade não esconde, não ofende, não sufoca nem maltrata.

Ela vai acreditar porque as atitudes dele correspondem às intenções.

Ele poderia ignorá-la se levasse em consideração popularidade, mas não o fará porque além de conseguir enxergar na alma dela uma manhã calma de sol e isso o convence mais do que tudo.

Ela vai recitar em voz alta a poesia viva admirando com ele o pôr do sol.

Juntos eles darão as mãos e apreciarão toda a beleza da natureza, a letra de uma boa música, a presença um do outro.

Tão feliz ficará a lua assistindo a um filme de amor que correrá sem grandes pretensões...

O que os une será mais forte do que eles.

Podem chamar do que quiser, o que importa mesmo é que eles viverão algo diferente de tudo que já lhes aconteceu. Muito do que será sentido transcenderá ao inexplicável, mas será parte deles, até porque a plenitude que compartilharão já convencerá.

Apesar de viverem em mundos completamente diferentes, as semelhanças os aproximarão.

Um será professor do outro sem medição de forças. O verdadeiro saber é íntegro e se deleita com a condição de que o progresso seja mútuo.

Eles serão um só coração, sendo dois, dois que sabem ser dois e ser um também.

Ele vai respeitá-la porque não se considerará superior em nada, mas porque lhe interessará fazer o bem, o que é correto, não para bancar o arauto da moralidade e sim porque ser gentil e honesto são virtudes impressas em seu caráter.

Tratar-se-ão sempre com julgamentos baseados na empatia e no bem querer do outro.

Eles não falarão com meias palavras porque estarão unidos por inteiro e certos de que a ação do tempo é infalível, reunindo-os para que convivessem em harmonia e juntos pudessem ser um só, progredir com honra, semeando amor, carinho, tolerância, educação, respeito.

Não se trata de uma utopia barata para preencher versos tolos.

Todos podem ser pessoas melhores, mas alguns foram tão feridos que querem se vingar de quem lhes magoou.

Não julgo. Não poderia.

Eles também não.

Ele também já perdeu a fé na humanidade, mas sempre reforça sua esperança com pequenas doses de amor por dia.

A bondade ainda existe.

Ela já quis se vingar de quem a destruiu, hoje apenas espera que o tempo a oriente para que não perca mais seus sonhos de vista.

Verdade seja dita, quem tentou destruí-la subestimou a força interior que a levanta sempre.

Ele do outro lado vai descobrir simplesmente que os melhores sonhos se realizam de repente.

Espero que gostem. É simples, mas de coração.