Em jeito de poema-estandarte:

O sofrimento e a angústia são,

de uma forma algo triste,

um mal necessário por serem

a matéria de emoções vitais

ao poema.

.

Na alma do poeta, nas entrelinhas,

o amor é o elemento residual

da paixão dos Deuses.

.

Em consequência e por ventura,

a pena do poeta

é frequentemente instigada

por uma id/entidade transcendente,

cúmplice do "pecado" da poesia.

(Entenda-se: presumível pecado.)

.

Sem por as minhas mãos no fogo

não deixo, porém,

de teimar quase solenemente

que os versos que vos cercam

não se leem pelos-olhos-a-dentro

tampouco se ouvem… patati patata

nem é obrigatório entendê-los.

.

Como milhões de outros quejandos,

e em coerência com a origem

da sua própria conceção,

o poema vive, consome-se

e tendencialmente finar-se-á

na alma.

Mas cuidem-se os incautos:

não vos consuma ele … a alma!

.

E...

num entretanto,

ao pôr-do-sol,

um poeta vivo atira ao mar

a matéria muito livre

de um poema

dentro de uma garrafa

cheiinha de vento

Ao pôr-do-sol

dois poetas vivos

atiram ao mar

matéria muito livre

Ao pôr-do-sol

três poetas vivos

atiram ao mar...

e

por aí adiante

até que toda a gente

fica a entender

que uma garrafa

cheiinha de vento

e mais um poema

de matéria muito livre,

por dentro,

não pode ser a pior coisa

para se atira ao mar…

ao pôr-do-sol...