Da Janela Do Meu Quarto
Vejo a vida da janela do meu quarto,
vendo apenas um pedaço
do que se passa lá fora...
Vejo um pássaro que vem e
outro que vai; um pousa na
janela amarela e logo se vai.
Vejo pequenas nuvens
de mãos dadas e atrás
outras maiores; seus pais.
Logo uma nuvem encarquilhada,
amassada, e penso, será a avó.
E aí o vento entra em meu quarto
dando rodopios, envolve a cortina
que, feito bailarina, se poe logo à bailar.
Mas o vento, brejeiro, ligeiro se vai
deixando para trás a bailarina, cortina,
com sua saia enredada não mais à bailar.
E eu aqui abraçado a essa cama que
certamente me ama, pois não permite
um movimento sequer em seu abraço mortal...
Mas sei que um dia isso tudo termina;
solto-me do corpo que prende,
da cama que prende e leve,
solto feito o vento, cruzo a janela
deixando para trás apenas
um pedaço do que por tanto fui,
ganhando o mundo e vendo tudo
que não pude ver...
da janela do meu quarto...