Sentidos

Se quer arrancar-me os olhos, faça-o sem hesitar:

Enxergarei a vida pelas janelas da imaginação.

Se pretende decepar-me a língua, faça-o sem sentimento:

Comunicarei as palavras pelas molduras dos versos.

Se tenciona retirar-me as narinas, faça-o sem titubear:

Captarei os olores pelos corredores da lembrança.

Se almeja destituir-me os ouvidos, faça-o sem constrangimento:

Perceberei os sons pelas ondas da alma.

Enfim, se aspira remover-me as peles, faça-o sem escrúpulo:

Reconhecerei as texturas pelas epidermes do pensamento.

Faça o que tiver que ser feito.

Para mim, a vida, há muito, perdeu o seu sentido

E todos os meus sentidos.

Apenas te peço, te imploro:

Não leve minhas esperanças nem as ilusões.

Sem elas não há como sobreviver.

10 de maio de 2018