GRITO NEGRO
GRITO NEGRO
- Ouça esse grito na noite!
- Vem d bala ou açoite?
- É da favela ou senzala?
- Pode ser lá da capela!
É de alguém que reza e apela
Aos anjos, santos de sentinela
- Proteja meu filho amado
Sofrido, discriminado
Por ter nascido marcado
Com a tinta da melanina”
Atacado em cada esquina
Revistado de palmo em palmo
Sem trabalho, sem estudo
Com seu passado roubado
Com seu futuro inseguro
Com seu presente amargoso
- Ouça esse grito na noite!
- De onde vem esse canto?
É de louvor ou lamento?
- Vem lá dos filhos dos santos
São cantos de acalantos
São cantos de resistência
Busca da humana decência
Luta por dignidade
Era explorado no mato
Hoje, sofre na cidade.
- Tem saudades de Luanda?
- Sim, mas, clama por Mariama
Por Oxossi, Oxum, por quem ama
E faz lembrar sua terra!
Mesmo depois de 100 anos
Seu cotidiano é de guerra
Contra a fome, sede, por terra
Contra discriminação
Pela dignidade do pão
Pelo livro e moradia
Invejo sua valentia
Mesmo apesar de tanto não
Insiste em ser sim pra vida
Salve, negro, negra, nagô
Salve, banto, ioruba
A África é teu passado
Teu presente é do lado de cá
Uma África no Brasil,
Aqui, em todo lugar
E eu não posso esquecer
Que eu também sou você
(Homenagem a José Laércio Ramos e a todos os negros e negras da resistência)