GRITO NEGRO

GRITO NEGRO

- Ouça esse grito na noite!

- Vem d bala ou açoite?

- É da favela ou senzala?

- Pode ser lá da capela!

É de alguém que reza e apela

Aos anjos, santos de sentinela

- Proteja meu filho amado

Sofrido, discriminado

Por ter nascido marcado

Com a tinta da melanina”

Atacado em cada esquina

Revistado de palmo em palmo

Sem trabalho, sem estudo

Com seu passado roubado

Com seu futuro inseguro

Com seu presente amargoso

- Ouça esse grito na noite!

- De onde vem esse canto?

É de louvor ou lamento?

- Vem lá dos filhos dos santos

São cantos de acalantos

São cantos de resistência

Busca da humana decência

Luta por dignidade

Era explorado no mato

Hoje, sofre na cidade.

- Tem saudades de Luanda?

- Sim, mas, clama por Mariama

Por Oxossi, Oxum, por quem ama

E faz lembrar sua terra!

Mesmo depois de 100 anos

Seu cotidiano é de guerra

Contra a fome, sede, por terra

Contra discriminação

Pela dignidade do pão

Pelo livro e moradia

Invejo sua valentia

Mesmo apesar de tanto não

Insiste em ser sim pra vida

Salve, negro, negra, nagô

Salve, banto, ioruba

A África é teu passado

Teu presente é do lado de cá

Uma África no Brasil,

Aqui, em todo lugar

E eu não posso esquecer

Que eu também sou você

(Homenagem a José Laércio Ramos e a todos os negros e negras da resistência)

José Daniel da Silva
Enviado por José Daniel da Silva em 20/11/2018
Código do texto: T6506825
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