E eu te digo...

Nesse momento em que minha mente divaga

Eu queria poder correr

E seguir um caminho sem lógicas, livre,

Embebido da verdadeira liberdade.

Esquecer o passado pesado

Que me faz caminhar divagar,

Pensando pelas estradas encimentadas,

Entre fumaças ácidas que me tiram o prazer de respirar

Eu queria correr

Encontrar um lugar

Onde pudesse parar

E sentir com força

O sabor de ser livre,

Livre como é impossível ser

Eu queria encontrar

Aquilo que não sei o que é,

Mas que meu coração sempre diz

Que anda faltando em mim, na minha vida.

E talvez eu possa encontrar...

É! Eu posso encontrar,

Estou começando a crer que é possível

Correr e encontrar

Num lugar que não sei

Aquilo que não sei o que é

Mas que vai decifrar

Num instante

Não só a falta que mora dentro de mim

Mas que também

Dará um sentido mais honrado para minha vida,

Que não sei para que serve...

Ir pelas mesmas vias

Todos os dias e depois voltar

E dormir

E levantar...

Não, não posso crer que tudo seja apenas isso,

Deve existir um lugar

E eu desejo correr assim

Sem lógicas

Como se fosse grande o desejo

De me perder

Perder-me no entre as vias

E não saber,

Mesmo que desejasse,

Mais voltar...

Algo me diz,

Tem algo errado nisso tudo

Apenas isso?

Como?

Não, há algo maior.

E eu estou começando a crer

Que também posso fazer

Parte desse mundo maravilhoso

Que se mostra em sonhos

Onde vejo as pessoas

Verdadeiramente humanas

E sei que lá há um lugar para mim

Sim, eu creio,

Creio sim que a vida não é esse peso,

Essa dúvida,

Essa incógnita indecifrável...

Quero correr,

Talvez eu encontre,

E mesmo sem nunca chegar

Seja isso, correr,

Assim sem rumo predefinido

Aquilo que algo em mim

Diz que há de melhor,

Melhor do que seguir pisando nas próprias pegadas,

Olhando sempre o mesmo rosto

A pouco e pouco envelhecendo

No espelho do banheiro

Quando o dia começa,

Mas que a sensação que se sente é a de final...

Sim, quero correr,

E vou correr,

E vou me perder

E quando perguntarem,

Se perguntarem,

Pois não creio nisso,

Digam apenas que saí,

Que saí para me procurar,

Que, por isso mesmo,

Talvez eu nunca volte.

E, não importa,

Saibam que estarei melhor

Onde quer que eu esteja

Estarei melhor

Meu coração estará aberto e sentirei a vida

Como algo leve

Que é como ela deve ser

Sim, eu vou correr,

E vou mais e mais longe

Sem saber onde vou chegar

Por que não é o chegar que importa

Mas está ciente de que se pode fazer algo,

Algo que manda que façamos,

Algo dentro de nós,

E que fingimos não ouvir,

E deixamos, assim,

Que o tempo leve o nosso rosto

E nossa força

E, por fim, a nossa alma...

Sim, pois chega o momento

Em que não ouvimos

Mais nada desse coração que se empedra

A cada dia que segues o mesmo caminho

Sem sentir o sabor verdadeiro das coisas,

E eu te digo,

Há algo além

Onde tu podes chegar

Além de ti

Mas em ti

Além de nós

Mas que podemos alcançar

Sim

Eu creio nisso

E vou correr

E, se por acaso morrer

Enquanto corro

Eu só queria te dizer

Que não ficasse triste por mim

Por que eu fui atrás

Daquilo em que eu cri

E creio

E assim

Pude sentir

O que é ser verdadeiramente livre

E beijei a liberdade

E voei com ela entre estrelas

E vi o fundo dos mares

E fiz tudo que tinha vontade de fazer

Porque fazer apenas aquilo que se tem vontade de fazer

É ter o prazer de viver

E eu te digo

Que os passos que dás na velha estrada conhecida

Por onde caminhas

Em algum desses dias

Tu deves ter pensado

Que algo estava errado...

Por isso eu te digo

Quero correr

Vou correr

Até que se desfaça em mim

Essa sensação

De que por mais que eu tenha conseguido,

O mais importante

De alguma forma

Estive deixando fugir

E eu vou correr

E eu vou sair

Para me encontrar

Para me procurar

E ser leve com uma pluma

E ser tão transparente como

Os seres etéreos que existem em meus sonhos

Nos sonhos de todos nós.

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 19/09/2007
Reeditado em 15/01/2014
Código do texto: T659854
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