SÁPIDOS
Não sei o sabor do passo à frente
Mas, não estaciono onde eu travo
Onde minhas pernas prendem em algo
Mesmo invisível
Há décadas que luto
Dia após dia
Em ser feliz
É algo que move, substancia
Envolve, evola, acaricia a alma
Movo-me, às vezes até cambaleando
Falo, mesmo sendo instantaneamente inaudível
Aprecio, mesmo em solo
Querendo ser um duo
Mas, vejo-me cada vez mais adepta da paz
Do sossego
Do amor, do falar com as plantas
Da amplitude dos versos
Que, feito um rio
Correm, chegam até léguas distantes
Mas, que me trazem companhias
Embrulhadas todos os dias
Feito as garrafas no mar
E eu desenrolo com tamanha afeição
Não me permito deixar de sonhar
E sonho aqui, acolá
É tanto sonho e palavras que permeiam
Que não deixam chegar o acalentar de uma decepção
De uma frustração
Se chegam, logo vão
Alimento-me do pão de cada dia
Da esperança, das lembranças
Sou tão farta do que me faz bem
Que não quero sentir e nem alimentar ódio
Hipocrisias, esnobismos, rancores
Até em escrever sinto nos dedos dor
Quero caminhar feito as nuvens
Leves, mesmo cheias
Quero evolar perfume, mesmo tendo espinho
Quero flutuar de amor
No chão, no ar, na água
No suspirar
Não desistirei de ir ao canto
Que me tem... que me tem bem
Quero não parar de sonhar
De sentir
Mesmo que o sabor não seja
O que aprecio
Mas, com tanto perfume, calor, amor
Que encontrei e alimentei em mim
Insípido não fica o passo
(Cleônia)