O CATADOR DE LATINHAS

Já era bem de noitinha

Ele vinha numa bicicleta vermelha

Bem fininha

Ele era fino

Chinelo de dedo, bermuda e camisa aberta no peito

Ele deu um jeito de dar uma paradinha

PENSEI: “Uéh! O que esse cara tá querendo

Parando em frente ao meu aposento?”

Foi então que descobri

Tudo estava debaixo do meu nariz

O cara da bicicleta magrela e vermelha

Catava latinhas

Dessas de bebidas

Só que meu lixo não as tinham

SENTI: “Nossa! O que é a vida?

Pobreza gerando riqueza? E esse aí é meu irmão...”

Que medo de ficar cheio de mim

Na solidão da escravidão

Se não pensar, alguém vem pensar por ti

Mas mesmo assim

Não se explica o submundo dos arrepios

Desse vento frio da ganância

PEDI: “Oh! Calafrio desumano se manca

e traz de volta a esperança!”

-- Quem disse que não trouxe a esperança?

Veja aquele catador

É um senhor!

E de dia e de noite trabalhando

Consegue o sustento

É o que pode ser feito a esse sujeito!

CHOREI: “Como pode ser assim natural

Se dentro de mim desdobra em dor esse final?”

O catador de latinhas

Estava com sua caixa vazia

E já era tarde da noite

E quando mais procurava

Mais se distanciava

Me pergunto, como pode esse absurdo?

PERGUNTEI: “Não vivemos no mesmo mundo?!”

Em casa quem o esperava?

Tinha ele sequer uma casa?

Ele se tornou um super-herói?

Talvez o homem invisível?

Ou é tudo uma farsa?

Não passa de um esquisito!

AMEI: “Um homem esquecido...”