ENROLADO

Não, não serei lembrado.

Os poetas os quais serão,

Já estão na beira do gramado,

Fazendo poses para população.

Se eu nascesse anos antes,

Quem sabe teria reconhecimento.

O poeta triste das amantes,

Que não teria esquecimento.

Hoje, no presente tempo,

Sou mais um chorão arrependido,

Jogado completamente ao relento,

Sem nada real ter vivido.

Sou mais um cabra sofrido,

Enrolado em palavras,

O tido canalha,

Com todo sentido.

Não, não serei lembrado.

Porque é quem faz tudo,

Eu não paro um segundo,

Nem pelo que é sagrado.

E sem fé sou safado,

Vagabundo desenganado,

Sem freio, sem afago.

O crime relatado.

Não, não serei lembrado.

Não tenho razão,

Nem emoção,

Nem um bocado.

O mundo está lotado,

Cada um no seu quadrado,

O que estou fazendo, oh diabo...

Nunca nada do que eu tinha pensado...

Sim, por algo serei lembrado...

Do dia que fiz esse abaixo assinado,

Das tristezas que trago

E levarei embora logo.