a primavera nunca tarda
quando a última folha cair
quando o vento cortante
entortar o último galho
e a garoa fina conduzir
o ritmo lento destes passos
ainda há motivos para caminhar
quando o céu escurecer
e o sol decidir se recolher
nas noites sem luar
horas repetidas marcarem
a presença da solidão
ainda há motivos para sonhar
quando o orvalho cobrir
as janelas e o descampado
quando não houver abraços
e nenhuma resposta
quando se chora sem consolo
ainda há motivos para se acreditar
— a primavera nunca tarda