A vida sempre recomeça

A chuva lá fora emudece sombras, pés, passos, vozes e habeas corpus;

Há toda uma beleza na chuva noturna e silenciosa,

Há toda uma inocência na quietude das ruas e das casas,

Há toda uma missa onde os silêncios e as azáfamas se fundem

[Na hóstia de se viver!

Há toda uma canção sinfônica nos pingos de chuva que acariciam

As flores e as folhas das árvores,

Os telhados e as paredes das residências familiares,

As janelas fechadas das catedrais e dos apartamentos,

O asfalto e a terra adâmica que acolhem sementes e corpos e a chuva,

Germinando às vezes goteiras e sussurros de verdes esperanças,

Nas flores que exalam o fulgor de novos dias

[E gera a supressão temporária de alguma dor na alma!

Germinando sempre uma coisa ou outra

Nos dias que rufam em nossos ouvidos deveres e horas,

Nas horas em que os desejos e as responsabilidades parecem não se comunicar.

E nesse espetáculo bucólico, pluvial, absurdo, cotidiano e vital

Os olhos comungam alguma sacralidade ou simplicidade

com toda a dimensão dessa chuva sublime e solitária,

E o coração acelera feliz, atônito e meio chuvoso,

E as lágrimas correm, inefáveis, pelas estradas ardilosas do rosto

E lavam e purificam algumas angústias e dores

De toda uma vida humana antes nublada, sacrificial, infértil e efêmera,

E desperta-se no coração um silente arco-íris

[Acima dos montes, prédios e pontes!

E a Vida, como sempre, recomeça...

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 23/12/2022
Reeditado em 24/12/2022
Código do texto: T7678162
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