No claustro

O claustro não é claro,

Mas de lá se vê a luz.

O claro da luz, raro,

Tênue, sobre a cruz.

Molduras tão mórbidas,

Pardas, tristes em luto.

Concretos entre sombras,

Silêncio absoluto.

Numa marcha fúnebre,

Sujas e amarelas,

Melancólica febre.

Dançam em chamas – velas.

Mãos estendidas ao céu,

Manto puído no chão.

A fé amarga o fel.

Joelho, dor, oração…

A prece sobe, enfim,

Pelas trevas alumia.

As pinturas em carmim,

Velam a luz do dia

Rostos, pinturas, teias,

Aranhas e morcegos.

Estátuas velhas, feias,

Libertando os medos

A penumbra decora,

O átrio dos sussurros.

Doce é aquela voz

De sentimentos puros

Segue a reza – terço,

E mistério, e conto…

Oh, meu Deus!Se mereço…

Vê que não sou um santo…

Valter Vargas
Enviado por Valter Vargas em 06/02/2008
Reeditado em 12/09/2011
Código do texto: T848367
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